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Palacete do Mimi



O Palacete do Mimi foi construído na encosta da atual Estrada Boqueirão Pequeno, entre os anos 1913 e 1920. O casarão, idealizado pelo proprietário de terras Floriano Rocha Lima e financiado pelo italiano Ernesto Primo, dono de uma indústria de calçados, logo se tornou um dos maiores atrativos de São Gonçalo.


As vidraças e janelas do casarão vieram da França, as pilastras de mármore e os azulejos, inclusive os da piscina vieram da Itália, uma escada especial que dava acesso ao segundo andar veio da Alemanha e foi montada no Brasil, ela era feita de mármore de alabastro e possuía corrimão dourado a ouro, técnicos alemães vieram montá-la.


O "Palacete do Mimi" era composto por oito quartos sociais, dois quartos para empregados, e um quarto junto a garagem, suas dependências eram completas ainda por três salas, uma no segundo andar e duas no andar térreo, no nível superior havia um corredor ornamentado com lindos espelhos que evoluíam cortinas de damasco, forradas com cetim volúvel na cor creme claro. Os banheiros eram equipados com porcelana branca e torneiras e chuveiros dourados, na cozinha, havia lindas panelas de alumínio, copos de cristal e pratos de porcelana importados, de alto valor. Possuía inclusive abóbada em bronze.


O palacete era muito iluminado; suas luzes, algo de especial para a população da cidade, seduziam a todos. Tais luzes serviam de farol aos marinheiros chegados à Baía de Guanabara. Pois é, naquele tempo não era bem um farol náutico, mas funcionava como guia a quem se aproximasse da cidade de São Gonçalo. Lugares escuros abraçavam as orlas das águas gonçalenses, praias vazias, areias sempre vagas. Todavia, o luzeiro apontava ao longe.


No palacete as festas eram grandes bailes com famosas orquestras, em que as pessoas, de todas as classes, dançavam diante de um enorme espelho de cristal todo trabalhado em art nouveau. O local também abrigou um cassino.

O palacete foi local da primeira reunião com artistas do Estado do Rio de Janeiro e paulistas pertencentes ao Movimento Modernista. Participaram dessa reunião Tarsila do Amaral, Villa-Lobos, Carlos Drummond de Andrade, Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Di Cavalcanti, entre outros. Sua importância seguramente foi ímpar nos cenários estadual e nacional.


O palacete teve como donos Ernesto Primo, João Eiras, Ângelo Conde, General Argolo, Teófilo Baden, Joaquim de Oliveira. Mas, foi debaixo do nome do empresário Emir Porto, o famoso Mimi, que a casa passou a ser mais conhecida na região, o que a fez ser chamada de Palacete do Mimi.


Com a proibição dos cassinos pelo decreto lei 9215 de 1946, Emir teve dificuldades para administrar o luxuoso espaço e foi onde começou o declínio do Palacete até o estado atual. Historiadores acreditam que o 'golpe final' aconteceu em 1961 com o incêndio do Gran Circo Americano, em Niterói, onde mais de 500 pessoas morreram. Por não ter onde enterrar os mortos, a Prefeitura de São Gonçalo desapropriou as terras do Palacete dando lugar ao Cemitério São Miguel.


A última festa realizada lá foi em 1970: o famoso churrasco comemorativo da posse do governador do Estado do Rio de Janeiro Geremias de Mattos Fontes, ex-prefeito do município de São Gonçalo. Também abrigou a gravação do filme: "Os Monstros de Babaloo", escrito e dirigido por Elyseu Visconti no ano de 1971.


A vontade de ter de volta o “palacete in memória” fez a população cantá-lo no enredo do carnaval gonçalense de 1996. Virou símbolo do Instituto Histórico e Geográfico de São Gonçalo (IHGSG), objetivando pesquisar aspectos socioculturais da cidade em seus pontos mais importantes. Foi motivo de livro do escritor Ismael de Souza Gomes, militar aposentado, cujo título era exatamente O palacete de Mimi.


Após Emir Porto, o Mimi, sabemos que o referido palacete foi vendido para 10 médicos, que pretendiam transformá-lo em casa de repouso. Contudo, com a morte de dois deles, os demais desistiram de tocar o projeto. Daí surgiu um novo proprietário, João Márcio Filizolla, engenheiro, que pretendeu fazer dele um museu, projeto que não foi à frente também. A Construtora Mecor tinha então como projeto derrubar as ruínas e erguer um prédio de dozeandares, porém foi letra morta, não saiu do papel. Sabe-se hoje que, por meio do vereador Alfredo Ferreira, vendeu-se o terreno para um grupo imobiliário mineiro.


O fim do Palacete do Mimi foi decretado em 2002, quando suas ruínas foram totalmente demolidas.


O Palacete do Mimi, um Casarão histórico localizado no bairro Estrela do Norte, em São Gonçalo, é mais um exemplo da falta de comprometimento da prefeitura com os patrimônios históricos da cidade. O palacete, construído há mais de 100 anos, entre os anos 1913 e 1920, tornou-se hoje um lixão a céu aberto.


Moradores do bairro questionam o poder público sobre a limpeza do local que acumula lixo e tem ultimamente servido de acomodação para usuários de drogas. "O que vem acontecendo no terreno, além do descaso da prefeitura e da falta de educação de algumas pessoas sem juízo que sujam o local é o um enorme risco para a saúde", contou um deles, que completou informando que o terreno se transformou em um matagal abandonado. Umas das únicas estruturas que sobrou do luxuoso palacete é a guarita que, segundo ele, estão abrigando usuários de drogas.


De acordo com os moradores, os usuários também costumam roubar fiação dos postes próximo ao local e queimam os fios dentro de onde era o palacete para que possam vender o cobre posteriormente. O problema é que, além do roubo, a fumaça da queima dos fios acaba entrando na casa dos vizinhos ao terreno.


Localizadas na Estrada Boqueirão Pequeno, as ruínas do palacete dão lugar ao lixo que já quase ocupa a rua. Além da guarita, uma das únicas estruturas 'sobreviventes' do imponente casarão é a piscina oval feita azulejos portugueses e mármores vindos direto da Grécia, além de instalações hidráulicas vindas da Alemanha e da Inglaterra. A luxuosa piscina, no entanto, hoje serve apenas para acumular água parada, tornando-se um foco do mosquito da dengue.


Questionada, a Prefeitura respondeu que "uma operação conjunta entre as subsecretarias de Fiscalização de Posturas e de Limpeza Urbana será realizada para apurar as denúncias e tomar as providências necessárias."





Endereço: Estrada do Boqueirão, 795, Estrela do Norte, São Gonçalo - RJ


Texto retirado dos sites: Tafulhar, Made In Gonça, O São Gonçalo e Jornal Daki.

Imagens extraídas dos sites: Wikimapia e Google Maps.


Fontes:



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